Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio da última semana

Levantamento mostra que 26 das 27 unidades da federação não têm plano para enfrentar episódios críticos na qualidade do ar, expondo a falta de planejamento e políticas públicas eficazes para a proteção da saúde e do meio ambiente.

Por Lucas Pordeus León — Agência Brasil

“Eu fiquei muito apavorada. Você querer respirar e não conseguir é muito ruim. Isso terminou me prejudicando porque precisei faltar ao trabalho”, contou a brasilense Edelweiss Ilgenfritz, de 52 anos. Asmática, a trabalhadora autônoma acordou na madrugada da terça-feira (17) com o apartamento cheio de fumaça da poluição.

A poluição, com concentração de partículas finas no ar, da capital do país cresceu cerca de 350 vezes durante o incêndio de grandes proporções que consumiu 1,4 mil hectares do Parque Nacional de Brasília nesta semana.

Antes do incêndio, na manhã do domingo (15), o ar da capital registrava concentração de 4 microgramas por metro cúbico (µg/m³) de Moléculas de Partículas (MP) de tamanho 2,5, considerada uma molécula mais fina. Na madrugada da terça-feira (17), o ar de Brasília registrou 1,3 mil µg/m³ da MP 2,5. Somente nesta quinta-feira (19) a poluição voltou a cair de forma sustentada.

Sem plano para melhorar a qualidade do ar

O Instituto Alana fez um levantamento mostrando que das 27 unidades da federação, 26 não têm qualquer plano para enfrentamento de episódios críticos em relação à qualidade do ar com a poluição.

“Quando há um episódio crítico, temos que alertar a população, avisar aos noticiários, talvez fechar as escolas. Mas o ponto é que a gente não tem plano de ação do que fazer e como orientar a população. Só São Paulo tem um plano de ação e esse plano de ação é de 1978. Então ele é muito antigo”, destacou JP Amaral, do Instituto Alana.

Para Evangelina Araújo, do Instituto Ar, é preciso um plano de ações para atuação nos episódios críticos de poluição do ar. “Além de alertar a população, o órgão ambiental tem que adotar medidas para reduzir outras fontes de emissões. As partículas não vêm só da queimada, vêm do trânsito, da queima do combustível fóssil, vêm da indústria”, alertou.